quarta-feira, 3 de maio de 2023

O império português do século XVI


O império português do século XVI
As influências dos descobrimentos nas ciências, nas artes, na literatura

segunda-feira, 24 de abril de 2023

A viagem - A expansão marítima (VII)


 

A aventura marítima (VI)


" Ocupa a Ribeira das Naus um espaço vastíssimo, fechado em parte pelos muros da cidade e em parte pelo edifício do Paço real, e estende-se até ao mar. 

Constrói-se ali todo o género de navios e especialmente essas grandes naus (...) que abriram a navegação da Índia e a conservam ainda com as suas contínuas viagens. (...) 
É admirável aqui, na verdade, a abundância de tudo o que é necessário para abastecer a armada  (...)." (1)

"De Portugal mandam jóias e pérolas orientais (...), ouro (...), especiarias, drogas, âmbar, marfim, (...), incenso, mirra, pau-da-Índia e outras coisas preciosas em grande quantidade, que delas de fornece a maior parte da Europa; as quais cousas os Portugueses conduzem das Índias Orientais a Lisboa e até cá, [Antuérpia] todos os dias. Conduzem também os aç´
ucares da ilha de S. Tomé e trazem igualmente a malagueta (...) da Costa da Guiné, (...) não esquecendo os óptimos açúcares e o vinho da Madeira (...). Mandam do reino deles bastante sal, vinho, azeite, e além disso (...) variadas frutas. Para lá [ de Portugal] manda-se prata, (...) bronze e latão, estanho, chumbo, armas (...), artilharia e outras munições de guerra; telas de ouro e prata." (2)

" D. Manuel quando comia, embora comesse depressa, nem por isso deixava de conservar com letrados que o acompanhavam sempre e sobretudo com estrangeiros (...)
Gostava muito de música e a maior parte das vezes resolvia os assuntos do Reino ao som da música. Tinha uma das melhores capelas (...) composta por cantores e tocadores que vinham de todas as partes da Europa (...)
A maior parte dos domingos e dias santos D. Manuel ia, depois de comer, ver correr cavalos e corria também (...). Quando não ia às corridas, ia passear num barco, todo embandeirado de seda, levando sempre música e algum oficial seu, com quem ia despachando.

Algumas vezes, merendava frutas, conservas e coisas de açúcar, vinho e água (...). Mandava muitas vezes correr touros (...). 
Todos os domingos e dias santos (...) dava serão às damas e cortesãos, no qual todos dançavam (...)" (3)

" Não temo de Castela / Aonde inda guerra não soa; / Mas temo-me de Lisboa, / Que, ao cheiro desta canela, / O reino despovoa.

Lisboa vimos crescer / Em povos e em grandeza / E muito se enobrecer / Em edifícios, riqueza, em armas e poder." (4)

(1) - Duarte Sande, Diário, 1584, (adaptado)
(2) - Ludovico Guiacciardini, Relação (agente comercial em Antuérpia), séc. XVI, (adaptado)
(3) - Damião de Góis, Crónicas de D. Manuel, (adaptado)
(4) - Garcia de Resende, Miscelânea, (adaptado)
Imagem: atribuído a António de Holanda, Livro de Horas do Rei D. Manuel

A aventura marítima (V)


" Pelo meio desta cidade corre outra grossa ribeira de água, a qual vem ter ao porto (...) e se reparte por quatro principais chafarizes, afora outro que sai junto do cais, donde provêm todos os navegantes e armadas (...). Tem esta cidade ao redor de si muitos pomares, jardins e hortas, de que é também servida e provida, como o é de todas as outras partes da mesma ilha e das outras ilhas." (1)

"[O Infante D. Henrique] fez povoar a Madeira por Portugueses (...); cheia de árvores, foi necessário aos que a quiseram habitar pôr-lhe fogo (...). Assim desapareceu grande parte do dito bosque (...) e embora seja montanhosa nem por isso deixa de ser fertilíssima, colhendo-se cada ano 180 000 alqueires de trigo (...).
Por ser a ilha banhada de muitas águas, o Infante fez plantar muitas canas-de-açúcar, pois a terra é muito própria pelo seu ar quente e temperado (...). Produz cera e mel (...), os seus vinhos são muito bons (...) e são em tanta quantidade que (...) sobram para exportar." (2)

"Na manhã seguinte fizemo-nos à vela, esperando achar gente (...). Apareceram algumas embarcações (...). Em cada uma das proas havia um negro de pé, com um escudo redondo no braço (...) Os nossos navios descarregaram quatro bombardas. Aterrados (...) pelo grande estrondo, deixaram cair os arcos, admirados por verem as pedras das bombardas ferir a água junto de si. (...) Depois (...) perguntámos-lhes por que nos ofendiam, sendo nós gente pacífica e vindo tratar de mercadorias (...). A sua resposta foi que tinham alguma notícia de nós, os cristãos (...), que não comprávamos os negros senão para os comer; por isto não queriam o nosso comércio por modo nenhum, porém, sim, matar todos nós (...)." (3)

"Para Pêro do Campo Tourinho poder povoar a capitania de Porto Seguro vendeu todos os seus haveres e preparou à sua custa uma frota de navios, na qual embarcou com sua mulher e filhos (...). E com bom tempo foi demandar a terra do Brasil e foi tomar porto no rio de Porto Seguro, onde desembarcou com a sua gente (...). No seu tempo instalaram-se alguns engenhos de açúcar, no que teve nos primeiros anos muito trabalho por causa da guerra que lhe fizeram os índios (...)." (4)

"Senhor:
(...) as armas que Vossa Alteza mandou, digo-vos o grande serviço que foi vosso; na Índia não haveria, antes da chegada destas armadas, mil e duzentos homens, uns em Malaca, outros em Goa e em outras fortalezas, e entre eles não havia trezentos homens armados (...).
E esta é a verdade.
(...) Porque via Malaca em vosso poder, que é fonte de especiarias e riquezas destas partes e chave de navegação do estreito, e Goa que é freio de toda a Índia e segurança de toda a navegação das naus de carga (...); e não ver gente nem armas para as segurar e conservar, e ver-vos mandar à Índia armadas, sem gente e sem armas, tirando Vossa Alteza um milhão de ouro." (5)

"Estes homens, bárbaros do Sudoeste, são comerciantes. (...) Bebem por um copo sem oferecer aos outros; comem com as mãos e não com pauzinhos como nós. Revelam os seus sentimentos com franqueza. Não compreendem o sentido dos caracteres escritos. São pessoas que passam a vida a vaguear daqui para ali, sem domicílio fixo, e trocam coisas que possuem por coisas que não têm; no fundo, é gente que não faz mal." (6)

(1) - Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra (século XVI), (adaptado)
(2) - Luís de Cadamosto, Primeira navegação, (adaptado)
(3) - Luís de Cadamosto, Primeira Viagem, (adaptado)
(4) - Gabriel Soares, Roteiro Geral, século XVI, (adaptado)
(5) - Afonso de Albuquerque, Carta a D. Manuel I, 1512, (adaptado)
(6) - Relato de Teppo Hi, escritor japonês do século XVI, (adaptado)
Imagem - Chegada dos portugueses ao Japão, século XVI, Arte Namban